Aroldo Veiga
Para que você possa compreender a minha história, os caminhos que me trouxeram até aqui, faz-se necessário recuar algumas décadas no tempo, mais precisamente para um fato que me ocorreu quando eu tinha apenas onze anos de idade – a lembrança mais antiga que eu tenho relacionada à literatura. Com olhos graúdos, minha mãe perguntava se eu já havia lido o livrinho que iria cair na prova do dia seguinte. Imaginei que fosse tomar uma bronca, pois, até aquele momento, eu sequer sabia o título do livro. Em vez disso, aconteceu algo que transformou a minha vida.

Com a paciência de um monge, minha mãe se sentou ao meu lado e, com todas as entonações, pontos e vírgulas, começou a ler para mim. Foi um momento mágico. Dezenas de imagens, prontamente, começaram a se formar em minha cabeça, e como num sonho, um portal se abriu à minha frente, dando-me acesso a um mundo inteiramente novo. Ficar exposto àquela forma tão pura de energia, passada assim, de coração para coração, fez o espírito literário se manifestar, irrevogavelmente, dentro de mim. Aquele gesto de amor mudou para sempre a forma como passei a enxergar o mundo, e me levou a outro livro, a outro e a outro. Nunca mais deixei de cruzar aquele portal mágico.
A imaginação se travestiu de fantasia para enganar a realidade e alegrar o nosso coração.
A loucura se camuflou de utopia para ludibriar a sanidade e confundir a nossa razão.
A informação se camuflou de autonomia para driblar a neutralidade e formar uma opinião.
A literatura se disfarçou de apatia para forjar a liberdade e fazer uma revolução.
Aroldo Veiga
Com o passar dos anos, comecei a perceber que só a leitura já não me satisfazia. Em algum nicho recôndito do meu subconsciente, o desejo de compor e narrar as minhas próprias histórias já começa a ganhar forma. Comecei, então, a rabiscar os meus primeiros ensaios, textos horríveis que nem trago mais comigo. Com a chegada da maioridade, parei de estudar e me agarrei à oportunidade de abrir um negócio próprio – jornada longa, dedicação exclusiva. Quando me dei conta, quase uma década já havia se passado. Agora eu era pai, e muito pouco dos meus anseios pessoais havia sido realizado. Estava óbvio que eu precisava iniciar uma mudança, e que esta deveria começar dentro mim.
